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sexta-feira, 19 de julho de 2013

NASCI - PARA - TE - MATAR

Era uma manhã tomada de ressaca de pinga  na praça central de Paragominas, quando a frente do velho veludo desbotado que suportava meus trabalhos de epoxi, me apareceu aquele homem rústico. Era magro, alto, pele parda queimada pelo sol, rosto cansado mas sem uma ruga e semi oculto pela sombra do chapéu. A barba rala e o olhar desconfiado por baixo da monoselha em V, revelava uma timidez quase que agressiva. Trajava uma camisa escura e suja, de pano grosso, mangas dobradas até antes do cotovelo. Calça de sarja preta, desfiada, segura por um cinto grosso de couro duro empenado. No pé, bota gasta de bico fino e espora de latão.
Pigarreou:
-O sinhô faiz tatuagi di máquina? (perguntava enquanto examinava meus braços rabiscados).
-Faço sim, quer olhar a pasta de desenho? - respondi curioso.
-Mais é di agúia?
-Isso, agulha descartável, material de primeira!
-Quanto quié? (permanecia parado de pé a meia distância).
-Depende o trabalho amigo, não quer olhar os desenhos? (Insisti, enquanto levantava e esticava o álbum de modelos em sua direção).
Respondeu dando um passo atrás:
-Treis palavra! Quanto quié? - parecia impaciente.
- A tatuagem fixa é a partir de cinquenta reais amigo, preciso saber o que exatamente o senhor quer fazer, tamanho, cores, detalhes... aí sim posso dar o preço.
-É simpris, treis palavra!
Percebi que ao contrário da maioria dos que ali paravam para perguntar, aquele homem queria mesmo fazer uma tatuagem, porém, era fechado, de pouca conversa, se eu não facilitasse o diálogo, perderia os cinquentinha.
-Certo, se são três palavras simples, uma cor só e pequena, faço cinquenta pro senhor!
-Faiz aqui memo?
-Não, o senhor escolhe o modelo e nós vamos ao hotel onde estou hospedado, é bem ali, preciso de espaço, higiene e rede elétrica entre outras coisas...
-Vamulá?
-Vamos sim!
Percebi que ele estava realmente disposto a fazer a tatuagem, embora demonstrasse certa rudeza através do semblante e das curtas palavras, parecia ser homem sério e não me faria perder a viagem.
Pedi a um micróbio que olhasse minha loja, peguei o álbum e acenei pra que me seguisse.
Atravessamos a praça, ele acendeu um paiero, pigarreava entre uma escarrada e outra. Dobrando a esquina quebrou o silêncio:
-Qué tomá uma?
-Opa! Bora lá!
Entramos no bar, pediu um conhaque com alcatrão, olhou pra mim, seu olhar dizia mais do que palavras, estava me perguntando em expressão o que eu queria tomar, respondi me utilizando da mesma técnica, num simples e curto abaixar de cabeça e piscar de olhos, disse lhe em silêncio que tomaria o mesmo que ele. Olhou para o mulato atrás do balcão e ajuntou:
-DOIS!
Foi só então que enxerguei-lhe o primeiro sorriso, curto, de canto, mas suficiente pra me mostrar um pouco de alma naquele casco, os dentes eram todos encapados a uma reluzente e dourada camada de ouro, e nessa hora, não sei exatamente o motivo mas, me assustei.
Matamos a um só gole aquele veneno amarelo escuro, quase como bárbaros batemos os copos vazios no balcão. Acendi um cigarro e nos colocamos pela calçada a passos largos e sincronizados.
Meia quadra dali um hotel cabeça de porco nos engoliu, avisei a gorda cansada da "recepção"que era um cliente e que não passaríamos de meia hora no quarto.
Três lances de escada, meti a chave e abri a empenada porta que revelou o estúdio improvisado ao lado da janela. Entramos, ficou de pé a meio metro da porta, pedi que se acomodasse enquanto eu preparava o material.
Enquanto lavava a biqueira perguntei:
-E então, onde vai querer fazer a tatuagem? No braço? No peito?
-Nu pé! - completou seco e emendou: -Possu vê a máquina?
-Claro! Tem essa que uso para riscar e essa outra para preencher... - disse colocando as máquinas em suas mãos calejadas.
-Quais são as palavras que vamos fazer? Preciso tirar o decalque!
Fez um silêncio e enrijeceu a expressão.
Tratando-se de três palavras, esperava eu por: "AMOR DE MÃE" "MARIA TE AMO" "DEUS ME GUIA" "EU TE AMO" ou até "SALVE O CORINTHIANS".
Levantou a cabeça, ajeitou o chapéu e sussurrou erguendo a sobrancelha:
-Nasci pra te matá!
Por uma fração de segundo encarei aquilo como uma declaração ameaçadora e só agora reparava eu, que meu cliente tinha na cintura uma garrucha de cano raiado que foi colocada neste momento em cima do criado.
-Nasci pra te matar? Essa é a frase que o senhor quer? - tentei demonstrar naturalidade.
-É! Imbaxo du pé!
-Na sola do pé?
-É!
-Tem certeza? A sola do pé é uma parte difícil de tatuar, por ser sensível e...
-Num tem pobrema! - interrompeu enfático!
-Bom, são quatro palavras: NASCI - PARA - TE - MATAR.
-Não, só treis: NASCI - PRATE - MATÁ!
Comecei a me arrepender de estar ali, pedi pra que tirasse a bota e esperasse eu tirar o decalque pra que pudesse ver se estava de acordo. Apresentei-lhe o retângulo de papel vegetal com a escrita "NASCI PARA TE MATAR", aprovou.
Revelou-me ser analfabeto, mas sabia contar.
-Tem quatro palavra aí!
Os próximos quinze minutos foram de explanações inúteis referentes a palavras e preposições. Meu exótico cliente deixou claro o que queria tatuar na sola de seu pé: "NASCI PRATE MATAR"
Sorriu mostrando sua dourada arcada ao ver as "três palavras" decalcadas na sola, do calcanhar à bochecha do pé.
-É issu qui eu quéro! Podi furá! Pago u dobro si ficá bão!
Caros amigos, já havia encarado tatuagens difíceis, em locais inapropriados, sob efeito de inúmeras substâncias, até mesmo em veículo em movimento, porém, de longe, essa foi a mais trabalhosa! Aquelas "três palavras" não me tomariam mais do que vinte e cinco minutos em qualquer outra parte do corpo, mas por mais que eu riscasse e embebesse a biqueira de pigmento preto puro, o traço simplesmente não pegava. Embora cascuda, a sola do pé do meu caríssimo cliente sangrava as polpas, eu imaginava a imensa dor que aquele homem estaria sentindo a cada insistente passeio das agulhas no ir e vir dos traços.
Eu suava, olhava para a pistola descansada na cômoda, para o mundarel de papel-toalha ensanguentado no cesto, e a cada higienização, percebia que não estava tendo sucesso. Fiz uma pausa. O resistente e silencioso homem abriu a boca:
-Busca uma pa nóis tomá!
Me deu uma nota de cinquenta e acendeu um cigarro, desci a escada e me dei conta que já estávamos a quase duas horas no quarto, peguei a cagibrina, voltei e o flagrei botando a sola do pé diante ao espelho e sorrindo com o cigarro entre dentes.
-Pricisa tê dó não fio! Carca essa porra aí! - me disse enquanto pegava a bebida.
Dei dois tragos em uma ponta de baseado, coloquei novo par de luvas e retomei o ofício.
O pé do bicho já era puro inchaço e vermelhidão, eu sofria, enquanto ele nem sequer mudava a expressão.
Foram três horas de atividades, falei um pouco da minha história conforme ele perguntava, dele, só arranquei que era garimpeiro e vinha do Piauí.
Trabalho acabado, não quis colocar a proteção. Calçou a bota, foi ao banheiro e se lavou.
-Quanto ti devo? - Perguntou com meio sorriso.
-Olha amigo um trabalho desse tamanho e nesse local complicado é pra mais de cem reais, aqui! Em São Paulo duzentos! Mas vou te cobrar o combinado... cinquenta.
-Toma! - Espichou uma nota de cem e retirando um pequeno saco de pano do bolso, abriu-o cuidadosamente em cima da cama e com os dedos pincelou algo muito pequeno. Me mandou estender a mão e pelos olhos arregalados, por um instante achei que estava me dando alguma droga rara. Soltou minúsculas pedrinhas amarelas na palma da minha mão e disse:
-Cuidado! Tem mais di duzentos reau aí, vai no seu Carlo do lado da rodoviária e troca!
Eram pequeninas pepitas de ouro, quase farelo. Agradeci e descemos a escada, ainda pagou a diária do hotel e se despediu com um aceno de mão.
O ouro somado ao dinheiro, me rendeu cerca de trezentos reais, que foram gastos naquela mesma noite. Porém, até hoje imagino de que formas aquela curiosa figura exibiu ou ainda exibe sua nada comum tatuagem de agúia...


Rafael Chaaban.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O CIRCO

O circo chegou
Aliás, sempre esteve aqui
No circo há malabaristas, petistas e parlamentaristas

Há também a pior atração
A cúpula do centrão
Também há mágicos que só pensam enganar sua platéia

No circo há também palhaços
Que só ficam na parte de fora
E os poucos anões se perdem no meio dos grandes

O circo chegou
Chegou também a tristeza de um povo
Um povo que não tem paz e união
Só uma única opção
O circo

O circo do planalto
O planalto da alegria circense
E os que fazem o circo
Os mágicos os incompetentes
São também os donos da ilusão

O circo chegou.

(Música feita por mim inspirada no poema de um artista de Diadema-SP em meados de 1998)

terça-feira, 16 de julho de 2013

O homem invisível


Desde sua infância, Mauro Slaiviesi buscava se ausentar da percepção das pessoas, não chamando a atenção ou mesmo se escondendo por horas, debaixo de mobílias, atrás de árvores, dentro dos mais diversos buracos que pudesse encontrar. Não era uma criança bagunceira ou comportada, simplesmente não era.
Mauro Slaiviesi, passou da fase de se esconder para a de se tornar invisível. Sim, o rapaz desenvolveu uma habilidade estranha de não ser notado, para ele, tal talento o tornava menos suscetível aos perigos da vida em sociedade, acreditava que passando desapercebido pelas pessoas, evitava maiores problemas.
Na padaria:
-Puxa! Dei uma nota de vinte por engano a um sujeito... mas não consigo me lembrar de como ele era!
No bar:
-Marta, você pegou o telefone daquele rapaz de ontem a noite?
-Não... ele parecia ser tão legal... o mais engraçado é que não me lembro do rosto e nem do nome dele!
Na cena do crime:
-Havia alguém no local na hora do assalto policial?
-Sim, aquele rapaz de chapéu... ué, ele tava aqui agora mesmo!
Assim cada vez mais, Mauro Slaiviesi se tornava invisível para o mundo ao seu redor.
Esta nada notável personagem, perdeu muito cedo seus pais, tendo assim que se virar pela tumultuada metrópole de São Paulo. Entre algumas experiências profissionais, se destacou pela habilidade na arte da tapeçaria. Seu chefe, gostava da qualidade de seu trabalho.
-Mauro, você é meu melhor funcionário, já pensou em sair dos fundos deste salão e vir pra trás do balcão atender os clientes? Você poderia ganhar muito mais dinheiro!
-Não Sr. Colpenhard... Gosto de ficar aqui, é mais seguro.
Ao fim de cada expediente, Mauro Slaiviesi se colocava pelos bondes lotados e ruas movimentadas da cidade em direção ao seu refúgio, seu apartamento alugado na rua Thomas Arguino, número 18 em Moema.
Ali, no recanto de seu lar, se sentia aliviado e tranquilo em relação aos perigos da vida metropolitana. Embora seguisse sempre o mesmo cronograma diariamente, não era notado em seu prédio, nem mesmo pelos moradores de seu andar.
Numa manhã de um dia de folga, Mauro Slaiviesi acordou cedo, regou as plantas, tomou um café e desceu para apanhar o caderno matutino de notícias. Era um leitor cartesiano e página por página percorria atenciosamente da primeira à ultima palavra dos textos.
Já havia passado pelos cadernos de economia, esportes, classificados, horóscopo, quando... (!)
O que seu nome estaria fazendo na seção de obituários daquele dia?
Correu ao telefone:
-Alô! É do Diário de notícias??? Quero comunicar um terrível engano... Meu nome é Mauro Slaiviesi e EU ESTOU VIVO!
-Só um momento senhor... Sim, aqui na relação de óbitos de hoje consta que "Na sexta feira, 28 de maio na rua Thomas Arguino, número 18,  Mauro Slaiviesi morreu vítima de um infarto fulminante... velório na manhã de sábado no Cemitér...
-Estou dizendo que eu sou  Mauro Slaiviesi  e não estou morto!
-Desculpe senhor, só publicamos dados que constam em nossos arquivos...
-Pois seu arquivo está errado! Eu estou vivo, inclusive estou falando da rua Thomas Arguino, número 18!
-Como lhe disse senhor, o dado consta em nossa central de dados e não há o que eu possa fazer nesse momento...
TUM! Desligou irritado o telefone.
A funcionária do jornal, virou-se para um colega e desabafou:
-Um maluco diz que cometemos um erro ao publicar seu nome na lista de obituários de hoje... Eu nunca cometo enganos... o meu trabalho é simplesmente publicar as listas conforme recebo... quem morre não é minha responsabilidade!
 Mauro Slaiviesi ainda extasiado, sentou em sua cama e passou a analisar o que deveria fazer naquele momento. Procurar a polícia? Com qual motivo? O que poderia acontecer de mal diante daquela situação? Afinal, era um cidadão comum, honesto, possuía um emprego fixo e nada devia a ninguém. Além disso, não tinha filhos ou família, quem poderia se importar?
Decidiu então fazer sua caminhada no parque, já que naquele dia frio e nublado, poucas pessoas estariam lá.
Durante a tarde, a funcionária do jornal preocupada com a sua reputação impecável, se esforçou em encontrar o erro na informação, ligou para a funerária, porém, sem sucesso. Era sábado e a mesma se encontrava fechada.
Aberta porém, estava a casa de móveis Laerte Madeiras.
O velho Laerte passava o olho pelo jornal e:
-Minha Nossa! Armando, nós vendemos um guarda roupas para um tal de  Mauro Slaiviesi da rua Thomas Arguino?
-Sim, faz uns dias... em doze prestações...
-Puta merda!  Mauro Slaiviesi morreu ontem!
-Caramba... e agora?
-Agora você vai lá buscar aquele guarda roupa, e vá rápido, antes que seja incorporado ao inventário dele!
O empregado obedeceu.
Ao toque da campainha o mau humorado e displicente síndico do prédio arrastou seu corpo pesado e cansado até a porta de entrada.
-Quem?
-Boa tarde senhor, viemos recuperar um móvel que se encontra no apartamento de  Mauro Slaiviesi, neste prédio, temos a nota...
-Vou chamar o morador!
-Pelo que nos consta ele faleceu ontem, correto?
-Não sei sobre isso, de onde vem a informação?
-Está aqui meu senhor. (mostrou o jornal).
-Aguardem aqui, vou ligar para o dono do prédio...
Ao telefone:
-Sim Geraldo, sei que você é meu síndico do prédio da Thomas Arguino, qual é o problema?
-Tem dois homens aqui querendo reaver um móvel do apartamento de  Mauro Slaiviesi do primeiro andar, estão com um jornal que diz que ele está morto...
-Espere vou conferir!
Fez-se um silêncio e após dois minutos retornou:
-De fato,  Mauro Slaiviesi morreu ontem, não me lembro desse sujeito mas, consta que ele está atrasado em um mês com o aluguel... libere esses caras e em seguida troque a fechadura do apartamento, tranque e coloque um anuncio de "aluga-se" imediatamente. Temos um direito assegurado por lei, podemos reter os bens dele... ele nos deve, vou ligar para o nosso advogado!
Assim se fez.
Enquanto o síndico trocava a fechadura uma vizinha chegava e perguntou:
-O que está havendo?
- O Sr. Slaiviesi morreu. Estou trocando a fechadura...
-Puxa nunca vi esse homem sair ou chegar...
O dia ia minguando quando  Mauro Slaiviesi se pôs a caminho de volta para o jantar, chegando a porta percebeu que haviam trocado sua fechadura. Confuso, desceu as escadas e foi até a sala do síndico.
-Sr.Geraldo! Não consigo entrar, minha porta está trancada...
-Quem é? (gritou embriagado o homem rabugento)
- Mauro Slaiviesi do primeiro andar!
-Não ele morreu! Some daqui seu vagabundo!
E somando a ação a fala soltou o cachorro.
 Mauro Slaiviesi correu dali, sabia que não arrumaria nada com aquele ignorante bêbado, resolveu então ir ao Décimo quinto distrito policial.
Chegando lá, se deparou com uma fila grande e muita confusão. Ao sufoco conseguiu que alguém lhe atendesse:
-Pois não senhor...
-Boa noite, meu nome é  Mauro Slaiviesi, moro na rua Thomas Arguino 18, fiquei trancado pra fora de casa.
-Tem algum documento senhor?
-Só a carteirinha do sindicato.
-Quem o teria trancado pra fora?
-O síndico acha que eu morri...
-Por que ele acharia isso?
-Por que meu nome consta na seção de obituários... está havendo um grande engano!
-Hum... olha meu senhor, a esta hora da noite não creio que o diário de noticias nos atenderá, além do mais, estamos afogados em casos realmente sérios nesta noite de sábado... aconselho ao senhor voltar pra casa, por favor, colabore conosco!
 Mauro tentou argumentar, em vão, o funcionário se perdeu em meio a uma pilha de papéis e um grupo de pessoas que o chamavam por todos os lados.
Caminhou até uma praça, comprou um cachorro quente e sentou-se num banco. Não percebeu que ao seu lado estava um mendigo que dormia sentado, assim como também não foi percebido.  Comeu em silêncio, refletiu e num brado desesperado:
-EU NÃO ESTOU MORTO!
O sujeito ao seu lado num só pulo saiu em disparada,  Mauro Slaiviesi chorou.
Decidiu então ligar para seu patrão, que a esta altura já havia lido seu nome no jornal e estava encucado.
O telefone tocou.
-Alô (Atendeu a esposa do patrão).
-Alô, aqui quem fala é  Mauro Slaiviesi...
-Só um minuto!
Virou-se assustada para o marido e disse:
-Querido... um homem ao telefone... diz ser...  Mauro Slaiviesi ...
-Oh meu Deus! Já sei o que está acontecendo... Vamos desligue, desligue rápido e tire o telefone do gancho!
A esposa assim o fez.
-O que está havendo querido?
-Foram eles, foram eles... esta ligação foi um aviso! Foi uma maneira do sindicato me avisar que mataram o pobre Slaiviesi...
-Porque fariam isso querido?
-Dois representantes locais estão disputando o controle sobre a minha loja! Querem colocar um funcionário deles na loja... para isso tinham que abrir uma vaga...
-Oh meu Deus!
-Vamos me passe o telefone, vou ligar no sindicato!
Suando e tremendo ligou.
-Alô... Vitor... aqui é o  Colpenhard... da tapeçaria... eu, digo... você venceu! Pode mandar seu homem, ele começa na segunda pela manhã!
 Em um canto do parque, um morador de rua dormia em um banco quando foi perceptado por um nada simpático guarda.
-Circulando vagabundo, não pode vadiar aqui!
-Policial, não sou vagabundo, sou uma vítima da cidade!
-Anda, circulando!
-NINGUÉM SE IMPORTA! SOMOS UM FARDO PARA A SOCIEDADE... LIXOS, A SEREM VARRIDOS PELO SISTEMA PRA BAIXO DO TAPETE DA INTOLERÂNCIA! SOMOS PESSOAS INVISÍVEIS...
-Só estou cumprindo ordens... (disse dando as costas e indo embora).
O mendigo caminhou em direção a uma galeria de esgoto seca, ao entrar percebeu que alguém dormia no seu lugar de costume. Era  Mauro Slaiviesi.
-Ora, veja o que temos aqui, outro náufrago da sociedade! Ei amigo, este lugar é meu!
-Desculpe... não tenho pra onde ir... meu problema é temporário... fui listado entre os falecidos no jornal, fui trancado pra fora de casa e ignorado por todos como se não existisse...
-Rá!! OUTRA VÍTIMA DO SISTEMA! HAHAHA! Ei, escute... eu sou só mais um lixo da cidade, porém você pode resistir!
-Acho que tem razão... segunda feira pela manhã irei ao meu emprego, meu chefe vai me ajudar!
Sorriu amarelo e dormiu.
No interior do estado, um homem lia o jornal.
-Lúcia, você leu o obituário no jornal de sexta?  Mauro Slaiviesi morreu! Ele não é seu parente?
-Sim! ...que pena.
-Será que ele valia algo, digo, não devíamos tentar descobrir?
-Ora Vagner, isso não me parece bom, eu quase não o via...
-Não seja tola! Ele pode ter deixado um tesouro pra você... você é prima dele!
-Muito distante... no jornal nem sequer mencionam meu nome...
-Ele tinha mais alguém?
-Não, até onde sei era solitário.
-Pois é! Se ele deixou alguma herança... você é a primeira da fila! Eu vou ligar para o nosso advogado.
Vagner ligou e foram orientados a entrar com uma ação, já que eram os únicos representantes legais de  Mauro Slaiviesi. Caso houvesse algum valor, pensão ou apólice de seguro, seriam sim os beneficiados.
Seria portanto necessário que procurassem os documentos do finado, que provavelmente estariam em seu apartamento em São Paulo.
-Arrume minha mala Lúcia, amanhã cedo vou à capital!
Segunda pela manhã, Mauro Slaiviesi foi até a tapeçaria, entrou e ouviu um grito que vinha dos fundos.
-Quem está aí?
-Sou eu Slaiviesi! Onde está o Sr. Colpenhard?
-Ele vai atrasar hoje... é só com ele?
-Eu trabalho aqui amigo, quem é você? (perguntou enquanto entrava no galpão)
-Sou o tapeceiro da loja!
-Como assim? Eu sou o tapeceiro aqui!
-Não me venha com essa! O tapeceiro antigo morreu!
-EU NÃO MORRI!
-Um minuto senhor, vou ligar para o chefe...
Foi ao telefone e ligou para o sindicato.
-Alô...
-Oi chefe, é o Dino, é o seguinte... tem um sujeito aqui dizendo que é o tapeceiro da loja, ele me parece ser um vagabundo, o que devo fazer?
-Aqueles filhos da puta do sindicato dos tapeceiros devem ter mandado seu próprio sujeito dizendo que é o tapeceiro daí... fique tranquilo! Volte ao trabalho, vou dar um jeito nisso!
 O homem desligou o telefone e voltou-se a seu sócio.
-Vamos dar um jeito naqueles safados, eles querem guerra... terão guerra!
-O que faremos?
-Você vai pegar um dos nossos homens e vão até aquela loja, livrem-se daquele sujeito!
-Devemos quebrar o pau nele?
-Não, não... ele é só um laranja. Vamos pregar uma peça naqueles idiotas! Levem-no para bem longe, para fora do perímetro urbano e larguem-o lá... sem violência... quando voltar já terá anoitecido, hahaha... o sindicato dos tapeceiros vai entender a mensagem e sairão do nosso território!
-Pode deixar com a gente!
Enquanto isso, Slaiviesi insistia pelo seu espaço na loja.
-Este emprego é meu!
-O senhor está me incomodando, sai pra lá!
-Ligue para o meu patrão, ele me conhece!
-Já disse que ele vai se atrasar, aguarde quieto!
Num ato de desespero, Slaiviesi tentou puxar o homem pra fora do galpão, mas o sujeito era grande e pesado, num só tabefe botou Slaiviesi para dormir.
Chegaram os paus mandados para buscá-lo, Slaiviesi acordou já dentro do carro.
-Quem são vocês? Pra onde estão me levando?
-Relaxa, vamos dar uma voltinha!
-Vocês não sabem quem eu sou, deixem-me sair!
-Você é o laranja do sindicato dos tapeceiros, agora cale a boca! Não queremos encrenca!
 Slaiviesi se desesperou, o que fariam com ele? Olhou pela janela e percebeu que estavam fora do perímetro urbano. Atravessavam uma ponte quando  Slaiviesi decidiu agir.
Escorregou a mão para a porta traseira e num ágil impulso, a abriu e pulou do carro em movimento.
Caiu rolando pelo asfalto e bateu a cabeça num pilar de sustentação, grogue e arrebentado deslizou pela ribanceira caindo desacordado mas ainda vivo na margem da represa.
Os homens no carro pararam e o perderam de vista, decidiram ir embora, o serviço estava feito.
Veio a tarde, a noite e  Slaiviesi foi encoberto pela água que subiu de nível ao fim da tarde.
No interior:
-Olhe Lúcia, recuperei os documentos de seu primo, ele deixou a escritura das terras do seu tio em Minas Gerais! Vai nos render uma nota!
No sindicato:
-Deixamos o sujeito bem longe da capital, a última vez em que o vimos, caminhava rua abaixo...
No Diário de Noticias:
-E agora Sr.a Mendes, gostaria de tornar sua aposentadoria memorável, estamos lhe conferindo nossa medalha editorial de erro zero e um título no valor de cinco mil!


Rafael Chaaban.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Fernando Pica Doce

    Filho de trecheiros, Fernando Junqueira nunca soube com certeza se nasceu em Apiaí ou Iporanga, certeza mesmo é que saíra do Vale do Ribeira antes de completar o primeiro ano de vida, em meio aos embrulhos e a bagagem rumou no sentido norte do mapa. Sua mãe que outrora se destacava pela disposição física que a vida estradeira exige, jazia ofegante, e só não mais triste porque tinha nos braços, aquele rechonchudo e simpático dorminhoco, seu primogênito. As belas pernas torneadas e os longos e firmes braços, se mostravam agora flácidos e castigados pela celulite.
    Foi em Anápolis que a pobre mãe de Fernandinho, como o apelidara uma recepcionista de hotel, se viu obrigada a recorrer a uma ama de leite, pois seus seios mais pareciam duas ínguas em carne viva, e convenhamos, o néctar materno é bem mais em conta do que as latas do leite em pó que se encontrava no armazém. Na maternidade Nossa Senhora de Lourdes, se fez achar Zulmira, uma negra grande, de costa e anca largas, pele macia e brilhante. Ama de três bebês recém nascidos, aqueles fartos seios de bicos inchados e úmidos, encarregaram-se também da alimentação de Fernandinho. Duas ou três mamadas diárias eram suficientes, vez ou outra, Zulmira não era encontrada, nesses casos, recorriam a Marta ou Lavínia, que doavam seu precioso colostro ao pequeno Fernando.
    O leite de três mulheres, além da mãe, contribuíram para o bom desenvolvimento do mimado e rodeado de seios Fernandinho.
    O pai de Fernando, conhecido como Zé do Rosário, era um cabra da peste, saído das bandas da Paraíba, tomava uns bons pileques e vivia a plantar desordens. Naquele ano em que Fernandinho completaria o seu quarto de vida, o velho Zé do Rosário, cujo o organismo vinha sendo consumido por uma febre dos diabos e uma insistente e aguda dor abdominal, dormia de pêlo no chão quando a morte o recolheu deste mundo.
    Fernandinho agora era todo de mãe, e ela dele. Sozinha e insegura a errante, agora sem a companhia de seu parceiro nos saculejos da viajada vida, correu para a casa de uma tia, lá pras bandas do Gurupi do Tocantins. E foi ali que Fernando, paparicado e bem cuidado pelas duas tias solteiras e sete primas (além de sua mãe), cresceu e viveu sua infância. Infância essa, um tanto quanto sem regras e sem posses, pés no chão de terra, casca de ferida, unhas sujas, só não pior devido ao zelo da mulherada, em meio a molecada farroupa se confundia como que camuflado, nem sua mãe distinguia  qual daquele bando de moleques e molecas era a sua prole.
    A renca que ia dos sete aos treze anos, se articulavam pelas ruas do centro, às voltas da matriz, no mercado e nas feiras, uns a esmolar, outros a afanar descuidos, vender jornal, cuidar de carros, passar santinhos e outras tantas. Sempre atrás do pororó, que se convertia em doces, baladeiras, papagaios, bulícos e afins. Porém, Fernando se destacava pela sua sorte com as generosas senhoras que volta e meia o levavam para tomar uma garápa, comer paçoca, um açaí moído, um bom caldo de piranha ou mesmo o chambarí matinal.
    Aos quatorze anos, Fernandinho agora era Nando, cuidado pelas tias, mãe e primas, era menos encardido, sua facilidade e desenvoltura natural ao trato feminino, lhe substituíra as molecagens junto aos barrigudinhos, por brincadeiras caseiras com Mirella, Jaqueline, Stefany, Malú, Sophia, Ana e Mariana, as primas, cujas as mães trabalhavam fora  e as confiavam aos cuidados da irmã pródiga, a mãe de Fernando.
    Stefany era de colo, suas irmãs Ana e Sophia, tinham nove e onze anos respectivamente. O outro grupo de irmãs era composto por Malú, que era um ano mais nova do que Nando, Mirella que era a mais velha da patota e as gêmeas Jaqueline e Mariana na pureza de seus cinco anos recém completados.
    Nando liderava o grupo:
    -Vamos brincar de casinha! Eu sou o papai, Mirella é a mamãe, a Jaque e a Mariana são as filhinhas...
    -E eu? - indagava a bruta e desengonçada Sophia. -Você é a empregada! - provocava o cabeça de chave. E continuava a delegar: -Vocês (apontava para Ana e Malú), são nossas amigas que virão nos visitar.
    No canto do pátio empilhavam caixas em cadeiras de maneira a se formar um cercado, enquanto as meninas se ocupavam em montar a cozinha, surrupiando talheres e panelas da casa, Nando forrava o chão com um tapete velho e realizava "Aqui é o nosso quarto!". Como era fácil para ele convencer as "filhas" a dormirem viradas para a parede, deslocar as "amigas" ao outro extremo do quintal e mandar a "empregada" fazer compras (apanhar limões e pinhas no terreno vizinho), e aí sim, se virar para sua "esposa" e chamá-la à dormir.
    Deitados de conchinha, Nando e Mirella se roçavam com um desejo tímido e cauteloso, que não era assumido, porém era consentido por ambos. Assim, até que as peças figurantes da gostosa brincadeira se cansassem da não diversão, os dois iam descobrindo os prazeres sensoriais do corpo e da carne.
    Os dias seguiam, formando meses, e enquanto a mãe de Nando se consumia em afazeres domésticos com Stefany encaixada ao quadril, agradecia aos céus pelas crianças que brincavam em silêncio no fundo do pátio.
    Vez ou outra, Nando mudava os papéis, alternando Mirella por Ana e Malú. A primeira se invocou a princípio, mas foi rapidamente convencida por Nando, de que, se não fizesse desta maneira, poderiam as outras contar tudo para a mãe, e aí, adeus brincadeira! Embora Mirella fosse sua preferida, Nando gostava da variação, dando os primeiros sinais claros de sua necessidade pelas conquistas e cuidados femininos. E foi a partir de tal necessidade que certo dia, a pouco delicada Sophia foi a escolhida para o papel de "mamãe" que dormiria com o "papai" no doce lar de Nando. Mau começara a  brincadeira e:
    - Hora de dormir! - ordenava papai Nando.
    Não foi o escorrer do nariz, nem a ressecada e armada cabeleira de Sophia que repeliram a atuação amorosa de Nando, mas sim a cotovelada nas costelas seguida do pescotapa que levara ao encochar a prima, que por sua vez correu a tagarelar para sua mãe o abuso do primo, que naquele dia não pode encarar ninguém dominado pela vergonha.
    "Isso acontece. É normal nessa idade."
    "Coitado, ele é criado só com meninas... É compreensível."
    "Já sabemos que o Nando não é um maricas."
    Nando ouvia de canto os comentários das tutoras, o acontecido passou como por desapercebido.
    No ano seguinte, Nando que era um aluno regular na escola estadual que frequentava, tinha como melhores colegas, três garotas de sua sala de aula, era o xodó da professora, até porque, não andava as aprontações com os moleques da turma. E foi numa festa junina escolar, que através de um correio elegante bem mandado, se tornou namorado de Joaquina, a prenda mais jeitosa do colégio. Namoro pré-adolescente, típico de cidade pequena, mãos dadas, encontros na praça do coreto após a missa de domingo e sorvete de cupuaçu. Saudavam-se com beijinho no rosto, mas vez ou outra, num canto aqui ou acolá, arrancavam-se  algumas bitocas na boca.
    Em casa nando aprendeu a ser discreto, não se ausentava dos olhares maternais (todos os três), cuidava-se principalmente com Mirella, cuja a cama passou a ser visitada por ele no andar macio da madrugada. E foi com ela que Nando se deliciou em sua primeira relação sexual aos dezesseis anos, Mirella que aos seus dezoito anos era muitíssimo mais madura que o primo, tratou e aconchegou aquele corpo sem forma que tremia vacilante por cima do seu.
    Nando já não dava tanta importância à Joaquina, e sem a necessidade de usar as palavras, foram se afastando, lenta e pacificamente ao fim do ano letivo.
    Fernando se sentia mais homem do que nunca, repetia a experiência com Mirella e aprimorava seu desempenho a cada dia.
    Naquele ano Nando namoraria a melhor amiga de Joaquina, a doce Bia, depois viriam ainda: Juliana, Ana Rosa, Maria das Dores, Mirian e até a filha do diretor, a pequena Luara. Para Nando não era necessário terminar um namoro para iniciar outro, e em casa, andava por conflitos com Mirella, por ter iniciado a vida sexual de Ana. Malú namorava um colega seu, só por isso escapou a seus domínios, pelo menos até aquele fim de ano na casa de uma amiga da família em Palmas.
    E assim, Nando em sua maioridade concluiu o ginásio e se lançou à Palmas, na capital teria mais campo a correr e garantir seu futuro, afim de dar um bom resto de vida a sua sofrida mãe. Trabalhava de dia e estudava de noite em cursos preparatórios.
    Aos vinte e um anos mudou-se para Imperatriz do Maranhão, onde conquistara uma bolsa de estudo. O curso? Pedagogia. Iniciava-se ali, uma jornada de estudos, onde, dos setenta e quatro alunos matriculados, apenas doze eram homens, quatro casados, dois religiosos fervorosos, três homossexuais e dois outros que não passaram do terceiro semestre. Ali estava Nando, rodeado novamente de mulheres, era aluno assíduo, mas adorava ser cuidado, deixando que as colegas de grupo se encarregassem de certos detalhes, como revisões, acabamentos finais e pesquisas mais detalhadas. sua liderança entre as colegas de curso era natural e invejável, era um ótimo orador e articulador, disputado pelos grupos de estudo.
    Nando não bebia, não fumava e raramente perdia uma noite de sono, a menos que fosse com uma bela representante do sexo oposto,  e em cima de uma cama. Visitava regularmente a casa onde cresceu, era festa quando Nando chegava, nos feriados santos, férias e mesmo em finais de semana surpresa.
    Mirella, Malú e Ana casaram-se, as duas últimas já eram mães, Sophia se conservava intragável e seguia para o ofício de "titia". As outras iam apontando para a vida e tinham Nando como herói. bem como as tias e sua mãe, que se regozijavam pelo sucesso do homem da família.
    Os anos de faculdade chegavam ao fim, e eram marcados na memória de Nando através das conquistas que colecionava, Joara, Sirleide, Conceição, Ana Maria, Cláudia, Michelle, Ariadna, Cristiane, Viviane, Tatiane e outras tantas "anes".
    Formado e bem remunerado, o agora Diretor Fernando Junqueira do Colégio São Damião em São Luís, casou-se com a professora Carla, e casou na hora certa, pois dali três meses, sua querida mãezinha partiu desta vida castigadora. Já no primeiro ano conjugal Carla engravidou, Nando ia contrariando a sua sina e era fiel a sua esposa. Fernando sonhava com seu herdeiro, chamaria-se Fernando Junior, e aos quatro meses da gestação a ultrassonografia afirmou: -É menino!
    Quanta alegria, iniciou-se a decoração do quartinho, os planos, os sonhos. Ensiná-lo a jogar bola, andar de bicicleta, rodar peão e é claro, os macetes do universo feminino, como cativar e conquistar uma mulher, uma não, muitas durante sua vida!
    Eis que, no sétimo mês de gestação, num rotineiro pré natal veio a bomba!
    -Sr. Fernando... - hesitou o médico. -O bebê está bem, tudo dentro do normal esperado por nós, porém... houve um... equívoco, em relação... ao...
    -Desembucha doutor, o que que há!? - indagou impaciente.
    -Nos enganamos em relação ao sexo... o senhor será pai de uma menina.
    Fernando ficou pasmo, não disse nada, saiu do consultório de olhos arregalados e andar robótico, caminhou com semblante assustado até o carro, e o dirigiu em profundo silêncio reflexivo até sua casa. Lá sentou-se em sua poltrona do papai, e naquele instante os sonhos com seu moleque foram substituídos por um trailer de sua vida, percebeu que não sabia como lidar com uma menina, paralisado ficou por cerca de vinte minutos, de repente, acordou num estalo e começou a folhear desesperadamente a lista telefônica.
    -O que procura Fernando? - perguntou assustada sua esposa.
    Com suor que lhe escorria e voz embargada gaguejou:
    -Um convento!


Rafael Chaaban.






sexta-feira, 5 de julho de 2013

Não há por onde


A mesma gota de orvalho que se faz diamante raro na manhã da rosa,
é gota lamacenta desperdiçada ao chão pisado em trovas.

A gentileza emprestada e a paciência exercitada,
bem como a espera de uma chegada,
traduz e seduz como quem não quer nada,
um cego cantante deposto na estrada.

De longe o ouvir do jorrar da fonte,
o choro cantado do sol no horizonte,
desnuda aspereza,
inflama a beleza,
revela a pureza,
toalha na mesa.

Rufar de tambor,
revela o clamor,
de todas as coisas que de natureza são belas,
sorriso de filho,
olhar na janela,
se bem expressado por compositor,
não há por onde se não pelo Amor.


Rafael Chaaban.

terça-feira, 2 de julho de 2013

BIG BOOM BRASIL

    Boom!
    E os gatos de almofadas se arrepiaram, vendo o enxame de gafanhotos descer por sobre sua farta colheita. Os anões acordaram! Fizeram se gigantes, e não mais pela seleção, mas pela indignação.
   Boom!
   O que foi que aconteceu? Cansaram do "pão e circo"? Enjoaram diante a novela?
   Boom!
   Fizeram se valer do direito, trocaram a lágrima da fila que não anda pela voz que o lacrimogênio não cala.
   Boom!
   Emparedaram os excelentíssimos de tal forma a Bial nenhum botar defeito.
   Boom!
   Corre da bomba da imprensa parcial, da alienação de efeito moral e da promoção do desvio de foco pela paixão nacional! Corre, mas corre pra cima, e depois, interrompe a corrida pra voltar pra correria. Amanhã é outro dia e o imposto não espera, bem vindo a nova era, não se deixe morrer.

Rafael Chaaban.