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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Pontualidade

TRRRIIIIIIIIMMMMM (!)
Já eram cinco horas e meia de segunda-feira quando num só tapa, Marino calou o despertador. Tinha uma entrevista de emprego naquele dia agendada para as sete horas. Não era uma entrevista qualquer, havia algo de especial,  além da grandiosidade e prestígio daquela empresa, Marino havia sido indicado por um amigo influente, que lhe conseguiu um encaixe extra pra tal oportunidade. Ficaria mal se não aparecesse. Além do mais, já eram 4 meses de desemprego, as contas já não podiam esperar.
Por tanto, Marino não fez corpo mole, saltou sem dar ouvidos à preguiça que lhe pedia mais cinco minutinhos de cama. Tomou um banho mais do que rápido e foi em busca daquela camisa que pedira para ser passada no dia anterior. "Onde foi que a Zezé enfiou essa camisa?", falou consigo mesmo. Zezé era sua empregada, que para o seu azar, havia se esquecido de deixar a tal camisa passada.
Marino procurou e acabou achando a tal camisa amarrotada no armário. Zezé só chegaria às oito, o jeito era ele mesmo passar. Passavam-se também os minutos e Marino começava a se desesperar, ao terminar de se trocar já estava vinte e cinco minutos atrasado de acordo com o cronograma que havia desenhado na mente. O jeito foi sair sem tomar café. Desceu as escadas do prédio de dois em dois degraus, morava no terceiro andar, mas só notou que havia esquecido a carteira quando chegou ao primeiro. Voltou.
Quando finalmente saiu do prédio, se colocou à passos mais do que largos em direção à parada de ônibus que ficava há uma quadra e meia dali, notou que o ponto estava vazio, provavelmente o ônibus para o centro já havia passado, se não lhe falhasse a memória, só haveria outro dali à meia hora. Decidiu pegar um taxi. Caminhou mais três quarteirões até a avenida em busca de um carro, depois de quase vinte minutos de espera avistou um que vinha aparentemente vazio. Sinalizou, o motorista o ignorou. "Maldito filho da puta!", não se conteve em sua raiva.
Marino olhava para o relógio e seu pânico só aumentava, finalmente um taxista parou ao seu sinal, embarcou e pediu agilidade ao motorista, explicando-lhe a importância de seu compromisso. Porém, nem o melhor piloto de corrida poderia fazer algo diante do trânsito lento que encontraram ao sair da área periférica da cidade. Quando andava, o carro não passava de 40Km por hora. Faltavam quinze minutos para o horário marcado quando Marino resolveu saltar do carro e prosseguir à pé. Pelos seus cálculos, estava a umas dez quadras do endereço da entrevista. Cálculo impreciso, eram dezesseis quadras, que só não foram percorridas mais rápido porque o gasoduto estava em obras obrigando os pedestres a caminharem por um corredor estreito em duas filas, uma que ia e outra que vinha. Faltavam três minutos para as sete horas.
Chegou finalmente ao endereço, havia muita gente com faixas e cartazes na frente do prédio, era uma paralisação, grevistas faziam uma manifestação de maneira a impedir a entrada do prédio ao qual ele precisava estar em menos de um minuto. Deu a volta, entrou pelos fundos e subiu as escadas de serviço como um queniano em uma prova com obstáculos.
Os ponteiros marcavam exatas sete horas quando Marino pisou na sala de recepção, se dirigiu até a secretária:
-Bom dia, tenho uma entrevista marcada para as sete horas com o Sr. Vignolli. - tentava controlar a respiração e ajeitar a gravata.
-Pois não, qual é o nome do senhor?
-Marino Cândido de Paula.
-Pode aguardar naquele banco por favor, o Sr. Vignolli ligou avisando que está preso no trânsito e deve se atrasar pelo menos uma hora!

Esperou.


Rafael Chaaban.
                                           

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